Creio que um dos sentimentos mais recorrentes na minha vida seja o de inadequação, especialmente nos anos de Maringá. Milhares de vezes já me peguei cantarolando but I'm a creeeep, I'm a weirdoooooo, what the hell am I doing here? I don't belong heeere. Em lugares ou reuniões, tanto fazia. Super democrático.

Mas a minha casa sempre era a minha casa, meu lar. Voltar para ela sempre foi reconfortante e me fazia respirar melhor (às vezes literalmente), por mais difíceis que as coisas estivessem.

Aqui é diferente. Obviamente sou uma outsider na cidade e é natural que me sinta deslocada, porque, bem, eu estou deslocada. Não conheço nada e quase ninguém. Não há nada de estranho nisso. O diferente é que meu apartamento ainda não se tornou meu lar.

Um dos pilares da Psicologia Ambiental é um troço que se chama "apropriação do espaço" (para espaço leia-se qualquer lugar, de uma praça à esquina da sua casa). Resumidamente, para que alguém se aproprie de um espaço é necessário criar uma simbologia, seus valores, etc, para que ele signifique algo. E essa teoria eu tô sentindo no couro.

Este é o meu apartamento, sim (contanto que eu pague as contas em dia), mas ainda se parece com um quarto de hotel ou casa de praia que logo será deixado. Por enquanto, ao chegar digo um tímido oi, casa sem beijinhos ou abraços. E com a Unesc é a mesma coisa. Fico olhando para aquelas pessoas, as modeletes de salto, os almofadinhas, conversas, oi-como-tá-amiga?, e me sinto apenas um vulto em meio a isso. Exatamente igual às minhas caminhadas no Cesumar.

Mais uma vez, é uma questão de tempo. Não tô preocupada ou me sentindo mal, já sabia que seria assim.

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Hoje à noite foi a primeira aula do mestrado. Quer dizer, foi mais uma apresentação do curso, dos professores e dos alunos. Os professores parecem legais, os colegas parecem um quatrilhão de vezes mais velhos que eu - tenho quase certeza de que sou a mais nova da tchurma. A recepção foi legal; no final ganhamos salgadinhos, refrigerante e bombons deliciosos com quilos de cereja (quis muito ter levado a câmera quando vi).

Ah, e a bolsa cheia de bolsinhos, chaveirinho, botton, sacolinha e jornalzinhos? Achei tudo super atencioso até lembrar que, né, eu paguei indiretamente por isso. A Unesc é particular, beibe, alou?

mas é legal, vá


Suspirei e voltei pra casa com uma paz de espírito enorme. Vai ficar tudo bem.

E não fiz mais nenhuma cagada no trânsito.

       Be Your Own Pet - October, First Account