Todos temos hábitos e manias, fato. Eu sempre tomo banho e lavo a louça na mesma ordem. Mas é claro que não vou achar que minha vó vai morrer se eu trocar um braço por uma perna ou um copo por um garfo daquela ordem. Também sempre calço primeiro o pé direito e a primeira coisa que faço ao acordar é ligar o computador. Inofensivo.
Também existem pessoas, por exemplo, que comem de boca aberta - e aí já fica um pouco mais complicado. Você pode fingir que está sem fome ou que está tendo uma convulsão pra fugir das refeições com tão adoráveis companhias. Se não der certo, o negócio é fingir que é um pedreiro(a), enfiar a cara no prato e comer o mais rápido que puder, sem esquecer de cantar um LALALA bem alto na cabeça pra evitar o som pastoso do "nhoc nhoc" à sua frente. Concentra-se bastante pra não desviar o olhar e correr o risco de ver arroz e feijão semimastigados na boca escancarada - com aquele grãozinho grudado no canto da boca balançando ao ritmo dos movimentos maxilares - e fica tudo bem. Você pode viver o resto do dia sem muitos sobressaltos, torcendo pra não virar um adepto de flashbacks de visões do inferno. É meio perigoso, mas se sobrevive.
Então chegamos à categoria mais crítica de hábitos e manias: as de que não podemos fugir.
De sábado para domingo fui dormir bem tarde, fiquei lendo até as 4 e pouco da manhã. Dormia muito contente e quentinha quando acordo às 9:30 com um som. Não, som é demais, fui acordada por bagulho parecido a cachorro engasgado com osso. O troço ecoava pelo meu apartamento, e só depois de alguns segundos entendi o que era: a escarrada matinal do meu vizinho.
Se fosse só uma vez por dia, quiçá 3 vezes, tudo bem. A gente sobrevive ao nojinho e tenta se conformar, como no caso da boca aberta. Mas não. É o tempo inteiro. Praticamente todos os momentos poéticos que vivi aqui foram interrompidos por catarros alheios. Toda vez que os escuto sendo expelidos me contorço e meu estômago revira. E o pior: aliando isso à minha outra mania - a de visualizar tudo - é de foder a vida.
O que fazer?
Hipótese 1: falar com o vizinho
Imagino a coisa assim:
Bato à porta. Uma moça atende.
- Oi, sou a sua vizinha aqui do 96. Gostaria de falar com o responsável pelo escarro da casa.
- Só um momentinho. (Grita para dentro do apartamento) Pai!
Os outros habitantes me encaram. Dou um passo para o lado a fim de sair do campo de visão. Um homem de meia idade, camisa puída e calça amassada me recebe. Sua cara é igualmente amassada.
- Pois não?
- Oi, ahn, eu sou sua vizinha aqui do lado, e... desculpa, mas preciso dizer que quando o senhor escarra me incomoda muito. Parece até que está dentro da minha casa.
- Ah é? (Indiferente)
- Sim. O senhor poderia, pelo menos, fazer isso com a janela do banheiro fechada?
- Olha, preciso de ar fresco porque tenho alergia. Não dá não.
- Mas...
- Olha, fia, você passa a noite inteira com música ligada e eu nunca reclamei, mas me incomoda.
- É mesmo? Se eu desligar a música pra sempre o senhor pára de escarrar?
Recebo uma cara amassada e enfastiada. E a porta na cara.
Hipótese 2: falar com o síndico
Eu não faço a menor idéia de quem é o síndico.
Hipótese 3: falar com a mãe do vizinho
A véia já deve estar morta de tanto desgosto.
Hipótese 4: chorar
Ajuda, especialmente se eu chorar mais alto que as escarradas.
Hipótese 5: método O Segredo
Posso colar um cartaz no teto do meu quarto pra, toda vez em que acordar, ver o "quero que meu vizinho morra engasgado com o próprio catarro" escrito. E visualizar a cena com muita fé, várias vezes por dia. Vai que dá certo...
Hipótese 6: usar fones de ouvido
É uma boa, já que não preciso me preocupar em ouvir o telefone ou a campainha - eles nunca tocam mesmo. Acho que vou pôr isso em prática.
Hipótese 7: grunhir e xingar alto ao ouvir os barulhos
Isso já está em prática.
É a maravilhosa vida em sociedade. Um brinde!
* Nota: enquanto escrevia este post, o vizinho escarrou 2 vezes.
Também existem pessoas, por exemplo, que comem de boca aberta - e aí já fica um pouco mais complicado. Você pode fingir que está sem fome ou que está tendo uma convulsão pra fugir das refeições com tão adoráveis companhias. Se não der certo, o negócio é fingir que é um pedreiro(a), enfiar a cara no prato e comer o mais rápido que puder, sem esquecer de cantar um LALALA bem alto na cabeça pra evitar o som pastoso do "nhoc nhoc" à sua frente. Concentra-se bastante pra não desviar o olhar e correr o risco de ver arroz e feijão semimastigados na boca escancarada - com aquele grãozinho grudado no canto da boca balançando ao ritmo dos movimentos maxilares - e fica tudo bem. Você pode viver o resto do dia sem muitos sobressaltos, torcendo pra não virar um adepto de flashbacks de visões do inferno. É meio perigoso, mas se sobrevive.
Então chegamos à categoria mais crítica de hábitos e manias: as de que não podemos fugir.
De sábado para domingo fui dormir bem tarde, fiquei lendo até as 4 e pouco da manhã. Dormia muito contente e quentinha quando acordo às 9:30 com um som. Não, som é demais, fui acordada por bagulho parecido a cachorro engasgado com osso. O troço ecoava pelo meu apartamento, e só depois de alguns segundos entendi o que era: a escarrada matinal do meu vizinho.
Se fosse só uma vez por dia, quiçá 3 vezes, tudo bem. A gente sobrevive ao nojinho e tenta se conformar, como no caso da boca aberta. Mas não. É o tempo inteiro. Praticamente todos os momentos poéticos que vivi aqui foram interrompidos por catarros alheios. Toda vez que os escuto sendo expelidos me contorço e meu estômago revira. E o pior: aliando isso à minha outra mania - a de visualizar tudo - é de foder a vida.
O que fazer?
Hipótese 1: falar com o vizinho
Imagino a coisa assim:
Bato à porta. Uma moça atende.
- Oi, sou a sua vizinha aqui do 96. Gostaria de falar com o responsável pelo escarro da casa.
- Só um momentinho. (Grita para dentro do apartamento) Pai!
Os outros habitantes me encaram. Dou um passo para o lado a fim de sair do campo de visão. Um homem de meia idade, camisa puída e calça amassada me recebe. Sua cara é igualmente amassada.
- Pois não?
- Oi, ahn, eu sou sua vizinha aqui do lado, e... desculpa, mas preciso dizer que quando o senhor escarra me incomoda muito. Parece até que está dentro da minha casa.
- Ah é? (Indiferente)
- Sim. O senhor poderia, pelo menos, fazer isso com a janela do banheiro fechada?
- Olha, preciso de ar fresco porque tenho alergia. Não dá não.
- Mas...
- Olha, fia, você passa a noite inteira com música ligada e eu nunca reclamei, mas me incomoda.
- É mesmo? Se eu desligar a música pra sempre o senhor pára de escarrar?
Recebo uma cara amassada e enfastiada. E a porta na cara.
Hipótese 2: falar com o síndico
Eu não faço a menor idéia de quem é o síndico.
Hipótese 3: falar com a mãe do vizinho
A véia já deve estar morta de tanto desgosto.
Hipótese 4: chorar
Ajuda, especialmente se eu chorar mais alto que as escarradas.
Hipótese 5: método O Segredo
Posso colar um cartaz no teto do meu quarto pra, toda vez em que acordar, ver o "quero que meu vizinho morra engasgado com o próprio catarro" escrito. E visualizar a cena com muita fé, várias vezes por dia. Vai que dá certo...
Hipótese 6: usar fones de ouvido
É uma boa, já que não preciso me preocupar em ouvir o telefone ou a campainha - eles nunca tocam mesmo. Acho que vou pôr isso em prática.
Hipótese 7: grunhir e xingar alto ao ouvir os barulhos
Isso já está em prática.
É a maravilhosa vida em sociedade. Um brinde!
Globo Esporte
* Nota: enquanto escrevia este post, o vizinho escarrou 2 vezes.
7 Responses to sobre a
escatologiaescarrologiarapaz, que trash isso, viu? manda um bilhete dizendo: oi, pare de escarrar. beijos anônimos, haha. ou pede para a imobiliária mandar uma carta, sei lá.
heheh os bilhetinhos anonimos é uma boa né?
tipo "escarrar faz voce ir pro inferno" ou "vai escarrar na casa do caralho seu porco"
assim, bem simpático.
eu conheço uma pessoa que fica limpando o dente com a lingua, sabe? aquele barulhinho?? GAH! da vontade de sentar do lado e dizer "olha, isso é feio, é nojento. vai passar um fio dental, e dai voce fica seguro que nao tem pedacinhos de feijão no meio dos dentes".
sei que temos manias que sao nojentinhas e irritam os outros - tipo eu que fico enfiando o dedo no OUVIDO (haah pensou que eu ia dizer nariz???). mas meu ouvido é limpo, eu limpo ele umas 40 vezes por dia. hohoho
mas po, escarrada PRO VIZINHO OUVIR é demais.
eu voto na opção de xingar bem alto combinada com um cartaz na janela DELE dizendo que ele é porco.
ele: [escarrada]
vc: POOOOOOOOOOOORCOOOOOOOOOOOOOO!
certeza de depois de 10 escarradas o QI dele deve ser alto o suficiente p/ relacionar uma coisa à outra.
sou a favor da combinação 4 + 5 + 6 + 7. ficadica, haha.
começa a gritar recados pra ele. tipo os recadinhos anônimos da amanda, só que gritados.
eu faço isso no trabalho. tem um povo lá que não sabe falar baixo...dae qnd começam a bradar "abobrinhas" eu começo a gritar:
-TRUCO!
-OLHA O PEIXE!
-BANANA 1 REAL!
e tem um ser escroto que espirra parecendo que vai partir no meio e escarrar o pulmão...pra ele eu grito: MORRE!
funciona. eles param por uns dias. mas logo fazem de novo
já cogitou a possibilidade de aparecer armada na porta da casa dele como quem não quer nada?
funcionou para uma amiga minha. o cachorro dela latia muito porque ele ficava preso na varanda, daí o vizinho apareceu na casa dela para reclamar TOTALMENTE EDUCADO, mas ele estava com um facão de churrasco na mão.
A menina se cagou TANTO que nunca mais deixou o cachorro preso e todos viveram felizes para sempre.
acho válido.
eu certamente tentaria.
Uiii... que nojo!!! mas tem gente que tem hábitos que incomodam mt mais sem ser tão nojentos assim.
Lúcia
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